O boi-bumbá Caprichoso divulgou o tema para o ano de 2026 no dia 18 de outubro, na ocasião do seu aniversário, em uma grande festa no curral Zeca Xibelão, em Parintins.
O tema escolhido foi “Caprichoso, brinquedo que canta o seu chão”.
Interessante notar que Garantido e Caprichoso inverteram suas estratégias de abordagens de temas para 2026.
Temas na mesa
Dias antes, o boi-bumbá Garantido havia feito o seu lançamento, deixando de lado uma série de temas genéricos e adotando um tema no qual abordará, especificamente, a espiritualidade da ilha dos tupinambaranas: “Parintins: portal do encantamento”.
Diferentemente, o boi-bumbá Caprichoso vem trabalhando com temas abertamente decoloniais: “Um canto de esperança para mátria Brasilis” (2019), “Terra: nosso corpo, nosso espírito” (2020 e 2021); “Amazônia, nossa luta em poesia” (2023); “O brado do povo guerreiro” (2024); e “É tempo de retomada” (2025).
Nesses anos, o boi azul e branco sagrou-se campeão três vezes em quatro campeonatos válidos (já que não houve competição em 2020 e 2021, por conta da pandemia de covid-19).
Com uma leitura inovadora e atual, quase encaçapou o inédito tetracampeonato em 2025.
Porém, em 2026, se lançará em um tema genérico. Aparentemente, “Caprichoso, brinquedo que canta o seu chão”, recontará suas raízes no chão caprichoso, e enaltecerá a sua tradição.
Ponto sensível
Na nota de lançamento divulgada por meio de suas redes sociais, o boi-bumbá Caprichoso reafirma a sua narrativa oficial de criação a partir da chegada dos irmãos Roque e Pedro Cid em Parintins, em 1913.
Ocorre que tal versão é indigesta à população de Parintins, que possui outras versões de origem do boi bumbá azul e branco.
A principal delas é de que seria criação do pescador e agricultor Luiz Gonzaga, em 1918.
Nesse sentido, a exaltação da narrativa oficial pode não ter o mesmo apelo sentimental durante a campanha bovina de 2026, já que esse não é um ponto pacífico para os brincantes do boi Caprichoso. E sempre é um fio solto que os brincantes do boi contrário fazem questão de desfiar.
O fim da fase decolonial?
A nota de lançamento não dá muitos elementos para que se façam maiores especulações sobre o modo como será trabalhado no próximo festival.
Contudo, dada a trajetória da associação até o presente, é de se esperar que recontem sua narrativa oficial com o mesmo tom decolonial, especialmente, nos temas relacionados aos povos indígenas e tradicionais da Amazônia.
Afinal, é possível recontar a mesma história com perspectivas diferentes.
*A autora é doutora em antropologia.
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Foto: reprodução/redes sociais
Fonte: bncamazonas
